2030: A Nova Era da Inovação Corporativa e do CVC
De instrumento de inovação aberta a veículo estratégico de investimento, o Corporate Venture Capital (CVC) vive um momento de virada após a fase de euforia. No Brasil, o modelo ainda amadurece, mas o potencial de expansão é enorme.
Compartilhar
Nos últimos anos, o Corporate Venture Capital (CVC) passou de coadjuvante da inovação a protagonista silencioso da transformação corporativa. Houve um tempo em que investir em startups era mais sobre status do que sobre estratégia, um selo de modernidade estampado em relatórios anuais e eventos de inovação. Entre 2020 e 2021, a euforia era visível.
Havia capital sobrando, valuations inflados e uma corrida quase irracional para “não ficar de fora”. Muitas corporações embarcaram nesse movimento movidas mais pelo impulso do momento do que por um propósito claro. Mas o vento virou. A partir de 2022, com juros em alta e liquidez rareando, o jogo ficou mais exigente.
O CVC deixou de ser uma vitrine para virar ferramenta real de competitividade. E essa talvez tenha sido a melhor coisa que poderia ter acontecido ao ecossistema. O novo ciclo separa quem investia para aparecer de quem investe para construir. O CVC, quando bem estruturado, é mais do que um cheque, é um meio de aprender com o futuro antes que ele chegue, testando hipóteses de negócio, acessando novas tecnologias e formando alianças com mentes que pensam diferente. As corporações que entenderam isso evoluíram de patrocinadoras de programas de inovação para investidoras ativas e co-criadoras de novos mercados.
Não é mais sobre apoiar startups; é sobre fazer parte de ecossistemas que redefinem setores inteiros. Antes de pensar no investimento, é preciso refletir sobre a intenção.
Nem toda empresa precisa criar um CVC, mas toda empresa que o fizer deve ter clareza sobre o “porquê” e o “para quê”.
O erro mais comum é o da pressa: criar fundos sem tese, sem governança e sem integração com o core business. CVC sem propósito é como inovação sem estratégia, uma coleção de iniciativas soltas que não se conectam a resultado algum. A maturidade começa quando o investimento deixa de ser um experimento e passa a ser uma alavanca de crescimento, conectada à visão da companhia.
Hoje, o desafio não é mais criar um CVC, e sim fazê-lo durar. O Brasil ainda está em processo de amadurecimento: a governança é frágil em muitos casos, o alinhamento estratégico é parcial, e a mensuração de resultados ainda é uma dor comum. Mas o amadurecimento vem, e rápido. De 2025 a 2030, veremos uma nova geração de CVCs mais estratégicos, conectados a temas como inteligência artificial, deeptech e biotecnologia, e uma América Latina mais integrada em termos de capital e inovação. As empresas que entenderem que o CVC é sobre gerar valor real, e não apenas sobre inovar por imagem, vão liderar essa transformação.
O hype acabou , e isso é uma boa notícia. Sem a euforia dos cheques fáceis, sobra espaço para a construção genuína. O futuro do CVC pertence a quem sabe unir estratégia, paciência e propósito. Investir em startups nunca foi só sobre retorno financeiro. É sobre transformar o modo como as empresas pensam, aprendem e competem. No fim, o verdadeiro ganho do CVC não se resume ao MOIC* de um investimento específico, mas ao conjunto de resultados que ele promove: novas fontes de receita, eficiência operacional, transformação cultural, perenidade do negócio e a mentalidade de que inovar é essencial para sobreviver e crescer.
(*) MOIC é a sigla em inglês para Múltiplo sobre Capital Investido (Multiple on Invested Capital), uma métrica usada para medir o retorno de um investimento. Ela é calculada dividindo o valor total do investimento (realizado e não realizado) pelo valor do capital inicial investido. Um MOIC de \(3x\), por exemplo, significa que o investidor triplicou seu capital inicial.
Sobre o autor
Leo Monte é Presidente da ABCVC e lidera a transformação estratégica de empresas. Com ampla experiência em alta gestão, inovação e corporate venture, atua na interseção entre finanças, tecnologia e governança, impulsionando crescimento sustentável e eficiência operacional.
